terça-feira, 24 de novembro de 2015

VÔO



quando voamos

entendemos mais a alma

que tanto pede calma

ficamos sem amarras

livres

sem pesos

quando voamos

estamos mais perto de Deus

e sendo sua imagem e semelhança

estamos mais perto de nós mesmos

e nos descobrimos capazes de tudo
mesmo sendo tão pequenos diante da imensidão


voando nos damos conta que não precisamos de balão, avião, asa...somente uma alma leve...

terça-feira, 17 de novembro de 2015

DAS BAGAGENS DA VIDA


ela é fruto das coisas vividas.

não nasceu pronta, já feita, mas pronta pra ser o melhor que poderia ser.

e ela tenta. erra e aprende. aprende e ensina.

porque já sofreu aprendeu a superar.

porque já chorou aprendeu a sorrir ainda mais.

porque já se iludiu sabe reconhecer a verdade.

porque sabe que a vida é feita de tudo, ganhos e perdas, ela não guarda rancor.

ela queria. queria um monte de coisas. mas mesmo sem ter, nem sabe o que é amargura.

ele chegou. trouxe sua bagagem e ela nem se incomoda que ocupe espaço na área de serviço. a bagagem dele faz ele ser o que ela gosta.

pras viagens que ela quer fazer junto com ele terão uma mala nova, vazia, que eles vão enchendo aos poucos com as coisas deles.

a bagagem dela incomoda, pena que ele não perceba que assim como a dele, é o que faz ela ser quem ele gosta.

daqui um tempo as bagagens no canto de serviço vão ser esquecidas porque as bagagens do quarto, essas sim vão ocupar a vida deles daqui pra frente.


ele não sabe, mas a mala dela nunca ficou cheia de verdade, porque ela, lá no fundo, sabia que ainda estava por vir a peça que faltava.

terça-feira, 23 de junho de 2015

DAS COISAS QUE A GENTE FAZ PELA PRIMEIRA VEZ

Quando recebi o convite de Germana pra fazer parte do Creative Connection confesso que nem parei pra pensar no que era e como seria, eu simplesmente aceitei porque era um convite dela pra participar de algo criado por ela.

Somos amigas desde os tempos da universidade, já trabalhamos no mesmo grupo empresarial e desde sempre acompanhamos as histórias de vida uma da outra torcendo mais que cheerleader em dia de campeonato estudantil.

A veia empreendedora dela sempre foi latente e envolvente, então, poder ir além de torcer fazendo algo por ela e pelo negócio dela era uma alegria. Mas não sabia eu que aquele sim seria algo, com todo o exagero poético, transformador pra mim.

Sempre fui macaca de foto, mas tirando a euforia da compra de uma câmera portátil de vídeo na pré-adolescência, nunca fui muito chegada em aparecer com som e movimento. Acho minha voz de taquara rachada, me movimento tal qual aqueles infláveis de posto de gasolina e não faço a menor ideia de qual meu melhor ângulo.

Daí vocês imaginem meu pânico quando me dei conta do que o “sim” significava!
Mandava mensagem pra Germana minuto sim, minuto não, cheia de dúvidas, receios, anseios, e ela só me respondia com “ kkkkkkkkk doidaaaaa kkkkkk”, além de tudo ainda parecia que eu estava a fazer palhaçada. Meu pânico era verídico!

Contar que fazer um primeiro vídeo-convite e Germana ter cólicas de tanto dar risada foi meio óbvio, né?

Pensei “me lasquei”, até porque desistir não fazia parte do combinado, muito menos da minha personalidade.  Até que fez-se a luz e Germana me mostrou como era a coisa...Abri um sorriso de alegria, era simples, tranquilo e despojado.

- Ouxe é assim? Vou e falo e filmo e pronto? Sem produção? Despojado como a vida deve ser ( a minha pelo menos)?

E tome mais “ kkkkkkk doidaaaaa kkkkkkkkk”.

Desci pro jardim do prédio, chamei minha afilhada que adora fazer filmagens e pronto, 30 segundos de um vídeo convidando a galera pra ver minha palestra online.
Foi fácil, pensei, e nem achei tão ruim assim, consegui me assistir sem vergonha, compartilhei e um monte de gente achou bacana pra minha grata surpresa.

Tava toda serelepe quando veio a solicitação da palestra em si. Frio, suor e quase lágrimas. Todo o meu pantim pros 30 segundos agora se multiplicariam pra 15 a 20 minutos.

E lá fui eu começar tudo de novo, e agora sozinha e agora tendo que fazer mais que convidar. Eu tinha de contar histórias, histórias que pra mim são tão simples e sem segredo que fico me perguntando se podem realmente ajudar alguém a empreender, criar coragem e se jogar num sonho.
Penei por um dia inteiro fazendo tudo pela primeira vez – gravar e editar uma palestra em vídeo.

Se ficou boa, de boa, nem sei dizer a essa altura, mas se a palestra em si não motivar, registro aqui que quebrar seus próprios paradigmas, experimentar romper as barreiras do que você tem vergonha e insegurança é sem dúvida uma delícia e faz um bem danado. E isso com certeza é empreender o melhor negócio do mundo: você mesmo.


Experimente, se inscreve no creativeconnection.com.br e vai lá assistir a palestra, agora que você sabe dos bastidores vai ser no mínimo engraçado se conectar  a essa experiência.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O TEMPO CONTA?

Ele lembra bem, guarda tudo na memória como se fosse uma grande biblioteca. Foram anos de muitos acontecimentos que marcariam uma geração.

Caiu o Muro de Berlim, após 29 anos houve eleições diretas no Brasil, o barco Bateau Mouche naufragou no réveillon carioca, a novela Que Rei Sou Eu, uma sátira política e social, alcançou altos índices de audiência, o mundo conheceu a “Fogueteira do Maracanã” durante a partida Brasil e Chile nas eliminatórias da Copa...

No ano seguinte o Iraque invadiu o Kuait, a Rede Manchete lançou a novela Pantanal trazendo mudanças para a dramaturgia brasileira, o futebol dos Camarões encantou o mundo e aos 32 anos o “exagerado” Cazuza perdeu a batalha para a Aids.

Depois veio a queda da União Soviética, a Guerra do Golfo, a declaração do então presidente Collor sobre “ter aquilo roxo”. A música sertaneja eclodiu no país, a novela Carrossel e a professorinha Helena caíram na graça dos brasileiros, Maradona foi flagrado no exame antidoping, Senna conquistou o tricampeonato mundial...

A cada lembrança vinda à tona ele refletia. Essas coisas das quais não se tem controle, ou se tem, mas não se cuida, moldam uma vida. Transformam pessoas, para o bem ou para o mal, mudam o rumo da história.

Ele sempre teve plena consciência disso e por isso nunca ousou desperdiçar-se, perder-se, sabia que não havia volta.

De vez em quando sai do macro e se volta para o microuniverso, àquele das pessoas comuns que vivem vidas ordinárias. Ele faz parte da vida de todas elas, às vezes de forma muito intensa, chegando a causar ansiedade, por vezes depressão. Outras vezes é tão discreto que ninguém se dá conta dele e vive quase como se ele não existisse.

Tantas outras, as pessoas vivem como se ele não passasse por elas. Mas ele sempre passa. E deixa marcas, no corpo e também na alma.

Dia desses, numa festa, ele espreitava, quase despercebido, as conversas de cada uma das pessoas presentes. Incrível como a maioria delas tratava de lembranças de um passado em comum.

Era o encontro de uma turma de colégio. Foram colegas numa das melhores fases da vida, a adolescência. Aquela do fervor das descobertas, das desobediências, das experimentações, das expectativas e também das frustrações. A fase dos sonhos, da certeza de poder tudo, de que aquela jovialidade seria eterna e que passar no vestibular era o grande presente da vida. Doces enganos e acertos que constroem grandes histórias.

É certo que grandes grupos acabam por formar pequenos grupos. E estes pequenos tendem a seguir em mais afinidade estando juntos por várias fases e por isso os reencontros tendem a falar de presente, quiçá de futuro. Já os grandes, esses tem em elo o passado, e nele se apegam se reconhecem e maravilhosamente se redescobrem.

Ele observava cada fala, cada lembrança e via como aquele passado em que nem todos estavam juntos, agora, no presente, fazia surgir afinidades antes inexistentes, eram novos velhos amigos.

E entre abobrinhas juvenis de quarentões, risadas bobas e várias selfies para nunca esquecerem seus próprios sorrisos naqueles encontros, alguns se deram conta da presença dele.

Ele riu.

“Nossa, parece que o tempo não passou”.

É verdade, ele não passou, ele estava ali, presente e seguiria com eles pra sempre. E é assim mesmo, quando a gente se preocupa mais em viver do que com o tempo que se vive, ninguém se dá conta nem de idade, nem de tudo que vem com ela, e vive uma eterna adolescência, mesmo que um tanto mais madura.


Ele riu mais uma vez e ficou feliz por não se preocuparem tanto com ele. Afinal, ele nem conta tanto assim. Ou conta?

segunda-feira, 30 de março de 2015

CADA CÃO TEM SEU INFERNO

vem dos ditos populares muito do que se tem a refletir sobre o comportamento humano.

Ouvi esse “cada cão tem seu inferno” de um amigo e fiquei cá pensando: tá aí uma verdade!

Cada um de nós tem seu próprio inferno, aquela caixinha na memória ou na atualidade onde estão as labaredas que nos queimam. São nossos medos, nossos traumas, nossos amores, os não resolvidos, não vividos ou não esquecidos, nossas dores, nossas amarguras, tudo que nos incomoda feito encosto.

É aquilo que nos tira o sono vez por outra, que coloca a terceira condicional a invadir nossos pensamentos “como teria sido se...”, as dúvidas que nos corroem, as palavras que não temos coragem de proferir, as atitudes que não tomamos, a tal zona de conforto que nos aprisiona.

Que inferno renunciar as mudanças necessárias, as oportunidades apresentadas, o novo que nos estende a mão; ter ficado quando se deveria ter ido, ou ter ido quando se deveria ter ficado e lutado e tentado.

Que inferno quem só se ver cão e se esquece de que parte de cada um é também anjo e como tal, também tem sua parte no céu.


Porque céu, cada um também tem o seu.

sábado, 22 de março de 2014

EM PAZ, VÁ NA PAZ

às vezes a vida se vai cedo demais.

aí a gente se dá conta do tempo.
ao tempo que não tivemos.
do tempo que deixamos pra trás
do tempo que não vivemos.
do tempo que não demos atenção.


feliz daquele que está em paz com o tempo. 

sábado, 4 de janeiro de 2014

DOS BICHOS DE ESTIMAÇÃO E DAS LIÇÕES QUE DEIXAM

"ninguém é suficientemente perfeito, que não possa aprender com o outro e, ninguém é totalmente destituído de valores que não possa ensinar algo ao seu irmão. ( são francisco de assis)"

aos dois anos cometi um crime que só me foi revelado aos quase 30, meio sem querer. todos sabiam menos eu. e todos fizeram segredo para me proteger do meu próprio ato.

sultão e brigite era um casal de vira-latas que tinha lá em casa. ele preto, ela laranja. eu gostava deles, apesar do medo de me morderem. um dia nós fomos embora e sem poder levá-los me perdi deles pra sempre, mas aprendi que a vida também se faz com despedidas.

eu tinha um galo de campina, um passarinho lindo com as cores do time do meu avô e da minha mãe e o nome da minha cidade natal. sem querer me separar dele, levei no avião, escondido e protegido por um papel de presente. eu tinha 5 anos. ele ficou doente e eu sofri. minha mãe precisou usar da terapia de choque pra que eu engolisse o choro. ele ficou bom, arrumou novos amigos e fugiu. sofri, mas entendi que a liberdade é direito de todos.

tico e teco eram dois coelhinhos lindos e fofos que eu adorava brincar e por no colo. um dia não resistiram à liberdade anunciada em mata aberta e se foram. sofri, mas aprendi que por melhor que tratem a gente, a nossa casa é sempre o melhor lugar pra se estar.

aí vieram os peixinhos que brincavam com a minha sereia de plástico. a gente viajou e na ânsia de não deixá-los passar fome, demos comida demais e eles morreram. sofri, mas aprendi que exageros não são bons e a que a busca deve ser sempre pelo equilíbrio. eu tinha 7 anos.

outros vieram e se foram. os meus, de amigos, vizinhos...e sempre que eles iam eu sofria. foi quando decidi que não queria mais bichinhos de estimação, não queria mais o apego, nem a dor das partidas que aconteceriam de um jeito ou de outro.

e foi por isso que me esconderam o crime que cometi.

aos dois anos, na intenção de dar banho no meu pintinho amarelinho, o afoguei no tanque. minha mãe foi testemunha e me disse que ele estava dormindo. acreditei e esqueci. anos depois na revelação me senti cruel, mesmo sendo inocente.

e aí aprendi que a gente machuca mesmo sem querer, e sem querer podem nos machucar. então aprendi a não julgar sem antes perguntar e, sobretudo, ouvir. e aprendi a perdoar. e aprendi que a gente não deve ter medo de se apegar, se isso implica em viver.